terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Impressões: Morte Súbita / The casual Vacancy - J. K. Rowling




A história:

No novo romance da autora vamos acompanhar a vida cotidiana e os acontecimentos na cidadezinha de Pagford após a morte de Barry Fairbrother. Barry fazia parte do conselho da cidade e sua morte deixa um vaga nesse conselho, começa então na cidade um duelo (nem sempre silencioso) para preencher a vaga.

A autora utiliza a morte do personagem como o estopim para discussão do tema do livro. O conselho paroquial, a cidade e seus habitantes estão divididos em dois polos, os que gostariam de ver a porção da cidade vizinha de Yarville, que é chamada de “Filds”, ser entregue novamente a jurisdição de Yarville; e os que defendem que Pagford deve continuar responsável por aquela extensão e seus custos. Na mesma disputa está em pauta o destino da clinica para reabilitação de drogados ( que aluga um prédio administrado pelo conselho de Pagford) frequentativa principalmente pela população dos Fileds.

O “Fields” é um área subsidia pelo governo, com casas de construção popular, onde se concentram todos os moradores pobres da região, e podemos comparar a situação do local com as favelas Brasileiras, apesar da infraestrutura diferente o desenvolvimento social é o mesmo, com proliferação do tráfico de drogas e vandalismo.

Para as famílias conservadoras da cidade próspera de Pagford não existe razão para sustentar vagabundos e drogados que “nunca trabalharam um dia de suas vidas”, mas para habitantes como Barry Fairbrother, que cresceu no Fields, a a ministração de Pagford é essencial para mudar a vida de habitantes que, como ele, só tem a chance de crescer na vida por causa das vantagens oferecidas por Pagford.



Todo o enredo do livro segue as vidas de diversos núcleos familiares interligados, são MUITOS personagens e o começo do livro é dedicado a apresentar e descrever cada um deles ( o começo da leitura é um pouco arrastado por causa disso ) e esse é um ponto da escrita muito característico da escritora, a maneira como ela consegue dar vida a cada um dos personagens com sua descrição de pequenos fatos e da maneira como eles se vestem, você reconhece cada um deles facilmente.

“...Ela era uma mulher baixa e robusta com a cara larga e singela, que cortava o próprio cabelo cada dia mais grisalho – a franja por vezes um pouco torta – usava roupas de tecidos caseiros, de variedade artesanal e gostava de adornos feitos de sementes e madeira. A saia de hoje pode ter sido feita de serapilheira, que ela combinou com um grosso cardigã verde ervilha. Tessa quase nunca se olhava em espelhos longos, e boicotava lojas onde isso era inevitável” [ Pág 41 - Tradução Livre]        

Eu senti em todos os pontos da história e que fica muito claro a posição politica da Rowlling, e isso é claro nos personagens que são caricatos, apesar de todos lutarem com os próprios dramas e nenhum ser considerado santo, os “vilões” da história tem atitudes e características físicas que me fizeram sentir um desprezo grande por eles.

Mesmo os habitantes que lutam pela causa “justa” não são perfeitos e tem suas razões particulares, mas a construção deles me levou a sentir pena ou gostar deles, a ver a posição deles mais de maneira mais favorável.

Os adolescente da trama são definitivamente os mais cativantes, os que mudam mais, eles sim eu pude entender mais claramente, ou perdoar em certos pontos.

Depois do primeiro terço do livro é que a história engrena de verdade e eu senti vontade de continuar acompanhando o que acontecia em cada uma das casas, e cada personagem diferente que representa um problema social diferente, que serve para desmitificar o convívio aparentemente perfeito e superior da cidade de classe media e alta, para aproximar essas pessoas das menos sortudas que vivem no Fields.

Chega a um ponto no livro que eu marquei quando eu senti que literalmente todos os personagens estavam escolhendo fazer a própria vida miserável. Deixou um gosto comigo de desespero mesmo.



São muitos temas pesados tratados de forma direta e alguns vezes com muitos palavrões, o que para muitas pessoas foi forçado, mas eu não tive esse sensação, pra mim ajudou a deixar os personagens mais reais.

É muita coisa acontecendo no livro, muita informação e muitos personagens, algumas você se perde um pouco nos detalhes se perde um pouco com a mudança constante no ponto de vista de personagem para personagem, mas nada que desestimule a leitura.

Eu recomendo o livro que carrega a mensagem da autora de maneira forte e bruta, com todas as qualidades na narrativa que me fizeram gostar da Rowlling na saga de Harry Potter. E por falar nessa série, acho que vale comentar que os dois livros tem muito a ver sim. Os dois são histórias boas que a autora conta para transmitir um mensagem social ao leitor, mas no caso de Harry Potter essa mensagem vem junto de uma dose de magia para aliviar a situação, em “Morte Súbita” essa mensagem vem na forma de um soco no estômago.  






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